domingo, 7 de agosto de 2011

Iluminação


"O estudo atento do orgulho será um caminho de infinitas descobertas para todo aquele que anseia pelas conquistas interiores"
Ermance Dufaux

O Ego ou orgulho é um sentimento de superioridade pessoal,é um "subproduto" do instinto de conservação. Este instinto tinha uma finalidade básica: Servir para o homem no seu desenvolvimento espiritual ao longo dos tempos. Porque sem este "sentimento de valor pessoal" e a "necessidade de estima" nós não desenvolveríamos um autoconceito de dignidade pessoal. Porém, o descontrole e o não entendimento deste sentimento é o que nós vivenciamos como grande distúrbio humano, chamado EGO.
Digamos que é um estágio humano necessário para a evolução consciencial. E neste atual estágio em que vivemos, o estágio do Ego, não temos capacidade plena em controlá-lo e entendê-lo.
E este sentimento cresceu e se tornou uma paixão crônica por nós mesmos.
Seu reflexo em nossas vidas interiores se dá no departamento da imaginação, onde se encontra uma "matriz superdimencionada " de nós mesmos. E apartir dela, que tem vida própria em nós como uma "segunda personalidade" onde tudo se processa. Gerando a dinâmica de todas as operações psiquicas e emocionais de nosso ser. Que vão determinar todas as nossas atitudes, ações, palavras, escolhas, aspirações , gostos e etc. Formação de nossos valores, crenças, conceitos sobre nós e do mundo.
Estar na forma , é estar vivenciando tudo o que o nosso pensamento produz mas entorno de nosso Ego.
O orgulho ou ego nos incapacita olharmos as nossas imperfeições. O que sai dele são idéias fantasiosas de que tudo o que sai de nós é melhor e mais correto do que nos demais. Esta caracteristica chamamos de personalismo. E este sentimento de superioridade interfere na formulação de juízos.
O ego é a parte em nós que pensa em nos defender de nosso abandono primordial. Que quer Amor mas entende o amor como reconhecimento exterior. Como glórias externas e não quer se ver abandonado e sozinho.
Este sentimento de abandono se deu no parto quando tínhamos um sentimento oceânico de união, amor e segurança. A partir deste momento viramos unidade e nos sentimos sozinhos e largados a nossa própria sorte. Este sentimento de nos desprender de tudo o que nós confiávamos e que nos dava segurança era o nosso destino. Este estar "sozinho", de estar separado do Todo Mãe/Pai. Nos concedeu interiormente o sentimento de desorientação, sentimento de desolação e de dúvidas. E continuamos ansiando por este retorno, o retorno a esta sensação de plenitude. Mas como isso é impossivel a partir daí criou-se o solo fértil para o nascimento do Ego em nós e sua tomada de PODER.
Entretanto, toda essa jornada sofrida faz parte da própria descoberta da CONSCIÊNCIA. Saindo deste estágio em direção ao entendimento de uma consciência DIVINA e individualizada. Este mesmo parto simbolizado em nossa trajetória terrana se deu em nossa trajetória espiritual. Em rumo a nossa transcendência como seres filhos da suprema Vida, da suprema inteligência do universo ou Deus.
E apartir daí, do parto primordial, nos sentimos sozinhos e abandonados , e isto nos gerou MEDO e como consequência o surgimento do EGO, esta parte em nós que se defende e cria um mundo baseado na forma, ou melhor, no pensamento que passam a protegê-lo do "mundo hóstil" e o mundo hostil exterior é o reflexo de nossos próprios medos interiores.
Por isso que os Indus chamavam o pensamento de Maya ou ilusão. Criamos um mundo ilusório a partir dos refúgios do ego para nos proteger do medo e do abandona primordial.
A nova Era, ou Era do despertar, é a era do reconhecimento em nós deste Ego adoecido, absolutamente equivocado e necessitado de Amor e transcendência. Aqui chegamos ao ponto do que podemos chamar de grande dístúrbio humano. A doença da humanidade. Que à principio tinha uma nobre finalidade mas se perdeu no caminho de suas próprias ilusões.
Este medo que sentimos faz parte de nosso crescimento como seres em ascenção na Ordem maior da vida. Já possuímos consciência que o ego foi durante estes milênios uma ferramenta de sustentação de nossa psique. Nos deu uma pseudo-segurança para nos afastar de nosso grande VAZIO, o nosso buraco negro.
Nascer significa que temos que enfrentar a vida "sozinhos". Na realidade não estamos sozinhos mas o nosso ego entende desta maneira e faz de TUDO para aplacar este estado de coisas.
Toda a nossa vida foi construída em cima do MEDO e NECESSIDADE DE VALIDAÇÃO EXTERNA.
Nossa consciência está nas garras do MEDO e com isso ela precisa reafirmar-se constantemente e procura validação eXterna. E principalmente, não está disposta a enfrentar o medo subjacente da REJEIÇÃO e SOLIDÃO.
Neste "ESTADO SONAMBÚLICO" semiconsciente somos absolutamente defensivos e com isso o ego cria seus mecanismos de defesas interiores.
Estamos permanentemente em "ESTADO DE CARÊNCIA", por isso nossas buscas infinitas, e sempre necessitando de algo a mais. Nada é suficiente e nos perdemos entre desejos, sensações superficiais e vÍcios de toda sorte. Vivenciamos o VAZIO que não conseguimos preencher.
Nossa relação com a criação e com a vida é com uma consciência que vive em "SOMBRAS".
O que é ter uma consciência que vive em sombras? É uma consciência que sente um profundo sentimento de SEPARAÇÃO, de ABANDONO, de SOLIDÃO, e de FRAGMENTAÇÃO, onde se sente INSIGNIFICANTE e SEM PROPÓSITO.
O medo que ocultamos, nós experimentamos como uma sombra em nós e enfrentá-lo nos causa HORROR.
E para continuar a viver com esta sombra em nós, desenvolvemos "ESTRATÉGIAS PARA VIVER COM ELA" e tornar a vida mais suportável. E ego como só trata os problemas em sua superfície e periferia em lugar de fazê-lo em seu centro, em seu interior. Ele volta a consciência para fora, para o exterior, para o mundo fisico e palpável, mensurável. É o que pensa, acredita ser possível de se manejar melhor, mais fácil. É o mundo material, e o nascimento do materialista. Do olhar para fora, para o exterior. O ego inteligente adora a lógica materialista, e é por isso que o materialismo impera em todos os sentidos e com ele ganhamos todas as suas mazelas de significado e sentido.
O ego tenta aliviar suas dores internas com energias que capta do mundo exterior, ou seja, seus desejos de reconhecimento,de admiração, de poder ( prioritariamente), de atenção e etc. E com isso cria aparentemente respostas ao seu desejo profundo de AMOR, UNIDADE, SEGURANÇA e TRANCENDÊNCIA.
O que realmente, nós, como seres queremos essencialmente é estar totalmente conscientes de nosso próprio SER. Mas só poderemos encontrá-lo enfrentando o medo e nossas escuridões. Voltar ao interior ao invés do exterior.
Temos uma consciência que essencialmente é LUZ. E ela não precisa lutar contra a escuridão. A sua simples presença, a luz, dissolve a escuridão. Precisamos é de lUZ, LUCIDEZ!
Acredito que voltando a nossa consciência para dentro de nós, os milagres acontecerão.
O ego atua dentro dos registros de necessidades de amor e segurança. Ele não enfrenta a escuridão, ele vive de "truques", ou seja, a necessidade de amor se torna necessidade de aprovação e reconhecimento por parte das pessoas. Transforma a necessidade de unidade e harmonia em necessidades de sobressair-se e ser melhor que os outros. Uma vez que o ser pense em ser amado e ser admirado por seus feitos, o ser não precisará mais percorrer os grandes labirintos de seu mundo interior em busca de amor. Dá trabalho!
O ego distorce o desejo de amor por reconhecimento. Ele procura toda essa validação externa que temporariamente lhe provê segurança.
A nossa consciência está totalmente focada no mundo exterior. Confia na validação e julgamento alheio. Está preocupada com o que os outros vão pensar dela. E sua auto-estima é dependente da validação externa. Mas o nosso profundo sentimento de abandono e solidão não é aliviado,e só piora na realidade quando nos recusamos a olhar para ele.
Tudo o que NÃO queremos VER é o nosso "LADO SOMBRIO". Deixamos o MEDO , a IRRITABILIDAE e as NEGATIVIDADES nos dominarem, nos rodeiarem e nos permeiarem. Influenciando mais ainda a nossa RECUSA de nos olharmos e influenciando a maneira que vivemos no mundo e a própria dinâmica do Mundo. Este, reflexo de nós mesmos.
Para nos ILUMINARMOS , este nome tão usado e tão mal entendido, deveríamos entender que a iluminação não é estarmos conscientes completamente de tudo o que há dentro de nós. Mas que é o desejo em enfrentar cada aspecto de nosso ser de forma consciente.
Budda fez isso como grande exemplo, enfrentou-se e se iluminou. O estado BÚDICO é o da iluminação e é o nosso DESTINO.
ILUMINAÇÃO é igual ao AMOR. Amar é nos aceitar como somos, desde o nosso mais belo sorriso em alegria até ao sabor salgado de nossas lágrimas em dor.
Rosa Barros

7 comentários:

  1. Rosa, adoro vir aqui refletir os seus textos. Preciso ler duas, três vezes. Esteja sempre presente, querida. Um beijo!

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  2. Concordo com a Rita, no sentido que um texto rico como este precisa ter as suas afirmativas garimpadas, pesadas e avaliadas de acordo com os mecanismos de medição que cada carrega. Não é fácil, nem um pouco, nos desfazermos de um equipamento de vivência, proteção, aquisição de conhecimento e auto-afirmação como é o nosso ego individual. Penamos para construí-lo para vê-lo conscientemente destroçado. Qual seria a recompensa para tal "crime"? A verdadeira PAZ!

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  3. Belo e claro texto, Rosa, profundamente reflexivo.
    A luz que não nega as trevas mas as supera, porque as integra e dissolve. Não como destino, como consciência plena que se procura, mas como estado de quem se procura e é, em amor, consciente de si e da sua imperfeição.
    Que de tanto nos sorria a alegria!

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  4. Rosa, vc tem um poder de sintetizar o complexo, que estou para ver!
    Bárbaro o texto!
    Beijos.

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  5. Deus fertiliza a nossa alma com a generosidade daqueles que escolheram trilhar o caminho do bem. Belíssima reflexão!:) Estarei sempre por aqui:)) Um fraterno abraço!!!:)))

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  6. Bem interessante Rosa, mas no final vc conceitua a "Iluminação", e o amor "Amar é nos aceitar como somos, desde o nosso mais belo sorriso em alegria até ao sabor salgado de nossas lágrimas em dor.". Aceitação é uma observação sem julgamentos. Sem dizer se é certo ou errado, mas uma observação imparcia. Um estágio de liberdade que nos abre a possibilidade de "dissolver o ego". É possível que haja mais "camadas" a dissolver, mais profundas. Quando diz que é o amor, vc o mata. Interrompe o processo de observação e de busca, de investigação. Isto é óbvio quando se percebe que o amor não cabe em nenhum conceito, e está além das palavras. O amor só pode ser conhecido experimentado, com toda a totalidade de nosso ser. E isso já é uma conjectura minha, que também impede de conhece-lo. Observemos... bjs

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  7. Olá Rosa
    Que espaço maravilhoso!
    Lhe seguindo. Me visite, ficarei feliz.

    Grande abraço, Dan.

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