sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O Bem e o Mal


Para entendermos a questão do bem e do mal do ponto de vista puramente cultural teremos que conhecer algumas diretrizes criadas ao longo dos tempos por diversas religiões e doutrinas orientais e ocidentais. Temos como um exemplo determinante O Maniquéismo criada por Manés , nascido na Pérsia , no seculo III d.C.
Os príncípios do Manqueísmo são alguns principios adotados por algumas doutrinas como o Zoroatrismo e o Cristianismo.

Estabelece que o bem e o mal estão presentes na vida de todos dos indivíduos e o mundo portanto encontra-se dividido exclusivamente nessas duas vertentes. O objetivo da existência é o bem vencer o mal. A luz contra as trevas.
Bem, como estamos impregnados destes conceitos até hoje, vivenciamos esta posição cultural.

Tentarei trazer alguns símbolos religiosos para efeito de entendimento e seus significados com um olhar baseado no conceito de Polaridade, olhar para estes dois aspectos (bem e mal) de uma unidade, portanto dependentes um do outro para existir.

A mitologia e os símbolos arquetípicos são apropriados para o entendimento desta questão metafísica de dificil entendimento ainda.

O que é um simbolo?
O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objeto como um conceito ou idéia, determinada quantidade ou qualidade.

No nível psiquico o símbolo faz a articulação entre o consciente e o inconsciente. Ele é mediador e organizador do Ego.

O que é arquétipo?
Arché-substancia primordial ( ar, água, terra , fogo). Thypos-impressão;marca. Ou seja, "um agrupamento definido de caracteres arcaicos , que , em forma e significado encerra motivos mitológicos, ou quais surgem em forma pura nos contos de fada, nos mitos, nas lendas e no folclore', segundo em fundamentos da Psicologia Analitica( Jung: O.C. vol. XVIII, p.33)

o arquétipo é sempre bipolar com seus aspectos criadores e construtores e seus aspetos negativos e destruidores.

"Os arquétipos 'adevêm do passado primitivo da espécie humana' e funcionam como matizes onde seriam engendradas todas as formas de representação específicas do nosso estado de ser humano"
Fonte: "História da Psicologia Moderna" Schultz & Schultz.

O que são Mitos?
Um mito (do grego antigo μυθος, translit. "mithós") é uma narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis.
Fonte: Wikipédia

Como tudo na vida evoluí a nossa consciência também evolui. Podemos comparar a nossa psique a um orgão invisível que também tem sua expansão ou evolução.
O estado consciencial em que vivemos é o da dualidade ou bipolaridade. O conhecimento sobre a polaridade veio dos antigos Chineses quando proproram a existência de dois princípios, o YIN e o Yang ou os princípios masculinos e femininos. Eles englobam o nosso intelecto e os estado afetivos. São princípios opostos, forças que interagem para manter o equilíbrio do Universo.

Heráclito de Éfeso na Grecia antiga concebia o Universo como este conflito entre duas forças opostas. Teríamos que apreender a realidade com suas mudanças e contradições.

Carl Gustav Jung também acreditou nestes principios da Polaridade e compara a psique humana a um espectro de Luz.
Em niveis inferiores, ou seja, nos subtratos organicos e institual os feixes seriam infra-vermelhos e em seus aspectos superiores seriam ultravioletas transmutando-se em formas espirituais.
O grande paradoxo é: As duas dimensões , a orgânica e a espiritual formam um só mundo.

Nossa mente limitada só consegue perceber como distintos.

Os mundos subjetivos e objetivos estariam unidos em uma Unidade. Jung então traz a tona o conceito de UNUS MUNDUS da filosofia Medieval que diz:
"O modelo potencial da criação preexistente na mente de Deus, ou poder seminal de Deus, a Sapientia Dei- Sabedoria Divina -, que transforma um Nada...em incontáveis formas" (Von FRanz, !992a:198).

Este conceito de UNUS MUNDUS diz que o homem( microcosmo) é espelho do universo(macrocosmo)
Nossa psique é formada em duas polaridades ; O consciente e o inconsciente, e os opostos natureza e espirito segundo Jung.

Psique não é cérebro é um processo evolutivo contínuo, repleto de energia.
Esta energia é grande e gera tensões entre as polaridades e irá resultar nos símbolos da psique: sonhos, fantasias, e etc...

Novos simbolos vão sendo criados nesta tensão constante. Assim a psique vai deferenciando e crescendo.

O mito da Queda do Paraíso.

O primeiro ser humano era um ser humano total, ou seja, um andrógino. Não era sujeito a uma consciência polarizada, vivia em um estado de Unidade.

Adão um andrógino que estava em um estado Paradisíaco ou estado de Unidade.

Adão então se vè diante de duas árvores: A árvore da vida e a árvore do Bem e do mal.

Aqui a narrativa mitologica ja insere no contexto uma visão polarizada, antecipando a presença dessas duas árvores.

Adão foi criado "homem e mulher". Eis que finalmente ele resolve colocar parte de si mesmo "do lado de fora" e deixa-lo adquirir vida independente. Com isso percebemos o inicio do processo de perda da consciencia - Adão adormece.

É retirado então de Adão um pedaço de sua costela segundo a tradução de Lutero mas a palavra em hebraico é Tselah = flanco. A palavra Tselah tem raiz na palavra Tsel que quer dizer Sombra.

Então agora os dois aspectos estão diferenciados e chamados de homem e mulher. Só que esta divisão não atinge inteiramente a consciência de ambos pois eles não se reconnhecem ainda com suas diferenças.
A serpente outro simbolo de diversas tradições representa sabedoria e despertar de consciencia. Jesus apresenta a serperte como simbolo da prudência (Mt, X16) pelo seu modo de atacar e se defender. Pode ser simbolo da saúde, simbolo sexualidade e etc...
Aqui ela é um agente da divisão. Ela então propõe a Eva que coma o fruto proibido para que possa distinguir entre o bem e o mal. Assim Eva ganharia o poder de discriminar.
Depois que Eva come o fruto proibido a serpente cumpre sua promessa. Aqui os homens então entram no aspecto da consciência Polarizada. Perde-se a totalidade ou Consciência Côsmica.

Interessante que esta história encontra-se na mitologiade todas as raças e de todos os tempos com narrativas semelhantes. O que para Jung formaria o nosso inconsciente coletivo.

Surge o Pecado que é o fato de nos afastarmos desta Unidade.

Pecado na lingua grega: Hamartäma que quer dizer, "o pecado" e seu verbo hamartanein ou "deixar de acertar o alvo" , "perder o ponto".

Pecado é o estado consciencial de incapacidade de acertar o alvo(Símbolo da unidade)

Pecar é sinômimo de polarizar-se.

O homem possui consciência polarizada portando é um pecador. Pecado é a polaridade propriamente dita e não é o que a Teologia nos ensinou como apenas em fazer o mal, e evita-lo fazendo o bem.

O pecado sendo a própria polaridade é inevitável.

Nosso caminho em rumo a perfeição ou a este estado de unificação e totalidade é o caminho por entre os opostos. E caminhar na polaridade implica tornar-se culpado.

Na tragédia Grega o tema central é sempre a decisão constante entre duas possibilidades e sempre terminando o sujeito como culpado seja qual fosse a decisão.

O grande mal-entendido Teológico insitou nos fiés a busca constante de não cometer pecados mas levou o ser humano à repressao de vários aspectos de seu comportamento.

Quando classificamos algo em errado fazemos crescer o arquetipo da Sombra que segundo Jung são aqueles conteúdos privados da luz da consciencia. Conteúdos que ja pertenceram ao nível consciente algum dia. Negligenciamos a nossa sombra e nos sentimos culpados. Afastamos os aspectos tidos como "demoníacos": impulsos , idéias asquerosas e crueis e ações moralmente condenadas. Tudo o que a cultura condena como nossas fraquezas ou sentimentos que possam trazer frustração: inveja, cobiça, ambição , ciúme, desemparo, impotência, derrota, solidão e sofrimento

Este é o polo sombra que recusamos viver e alijamos de nossa consciência. Mas tudo o que recusamos viver sempre se manifestará no final.

Quando o Cristianismo transformou o diabo em rival de Deus, este perdeu o seu poder de Cura. Até Deus entrou no mundo das polaridades.

Mas Deus é a Unidade cabe nele tanto o bem quanto o mal.

O demônio é uma polaridade ,ou seja, o "senhor da divisão" e sua simbologia são sempre com chifres, garfos , ferraduras, ou seja, duas pontas voltadas para cima.

A própria simbologia diz que o mundo é polarizado ,ou é demoniaco, ou é pecaminoso.

Por isso que todos os mestres nos convidam a "abandonar o mundo".

É impossível se alcançar a unidade evitando um de seus polos ou uma parte da realidade.

O caminho rumo à cura passa pela culpa. Ela é justamente o que lhe dá garantia na busca pela liberdade.

O homem é pecador e portando ele precisará aprender a conviver com a culpa, caso contrário viverá em desonestidade consigo mesmo.

A culpa humana tem natureza metafísica não é provocada diretamente por nossos atos ditos "errados" perante a sociedade.

A necessidade de escolher e agir é a expressao visível da culpa.

Aceitar a culpa elimina o medo de tornar-se culpado. O medo representa limitação e impede nossa expansão.

Precisamos entender e ter consciência da polaridade em tudo o que existe, sem entrarmos em conflitos inerentes a esta condição.

O desafio é permitir-se vivenciar os conflitos com consciência.

Necessário questionar sempre os valores obsoletos.

Reconhecer que o mal na verdade nem mesmo existe.

Deus é unidade e é "Luz", é uma unidade abrangente.

Junto com a polaridade surgiu a escuridão, apenas para tornar a luz visível.

As trevas são imprescindíveis para tornar a luz visível à consciência polarizada.

Pensar que a escuridão é um facilitador ou servo da luz, é uma imagem bastante acalentadora e muda tudo.

A luz existe mas a escuridão não. Ela transforma imediatamente as trevas em Luz. O que não se dá ao contrário.

O mal é um subproduto de nossa consciência polarizada e é um intermediário para a percepção do Bem.

O mal nunca será o oposto do bem.

O desespero em dividir as polaridades é o próprio mal. O "mal" é o caminho para obtermos a percepção intuitiva. A única capaz de nos tirarmos da polaridade. Somente a intuição pode romper com as normas estabelecidas e inaugurar novas visões e ampliar a consciência.

O nosso olhar deve se apurar. Observar é o caminho para o autoconhecimento.

O simples olhar para uma coisa já traz luz pra a coisa observada.

Não é mudar o estado de coisas mas observar melhor para atingir a sabedoria ou Iluminação.

Enquanto o homem se pertubar e achar que deve mudar tudo ele ainda não atingiu o autoconhecimento.

O Ego sempre sempre divide e tende a escolher um lado. É o jogo ilusório que precisamos sair.

O homem acredita na imperfeição do mundo pois esta perdido nesta ilusão.

A imparcialidade é a palavra, observar os fenômenos sem avaliá-los entre sim e não.

Ou seja, sem nos identificarmos. Aqui está a força egóica.

Não atingiremos o mundo perfeito através de repressões, forças e divisões.

Teremos que entender que os opostos nunca se unirão e sim perceber sua dinãmica e aceitar.

Escapismo e ascetismo são as abordagens menos indicadas para se atingir o estado de União.

Enfrentemos desafios de forma consciente e sem medos.

Estamos agindo com consciência? Há envolvimento egóico em nossos atos?

Estas questões dicidirão se nossas ações vão nos libertar ou nos aprisionar.

Encontrar a nossa própria lei interior nos livrará de todas as outras.

Descobrir o nosso centro e concretizá-lo, ou seja, tornar-se Uno com tudo o que existe.

Que podemos fazer?

Aprender a amar.

O amor então surge como o unificador.

Amor é o princípio da receptividade e da abertura. Aceitação!

Não há condições e nem limites para o amor.

Enquanto vivermos o Amor condicional não nos unificaremos.

O amor não separa. A escolha separa.

O amor irradia como um Sol e essa é a idéia de Deus. Aquele que não diferencia, é Unidade.

Só o ser humano julga, divide e joga pedras.

O amor transmuta. Portanto amar o mau é redimí-lo.

Rosa Barros

4 comentários:

  1. Querida Rosa, boa tarde!
    Adorei conhecer um pouco mais da sua profissão e adorei sua visão sobre assuntos tão relevantes!

    Realmente esse lance de bem e mal dá pano pra manga!

    Mas adorei a forma como expos o assunto!

    Beijo, querida!

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  2. Magnífico!
    Deixei meu pai chocado semanas atrás pq disse que tinha consciência do pior que havia em mim. Precisei explicar que eu acreditava que nossa evolução estava ligada a olhar para o pior para transmutar no melhor. Que minha natureza bruta era agressiva, destruidora e que minha ira era tão grande, às vezes, que quando eu olho para ela bem de perto, vejo tanta destruição e é tão horrível que nesse momento mato meu ego enxergando ele tão nu e que, então, a minha alma compassiva, integradora, amorosa e construtiva se aflora trazendo luz a cena, literalmente. E que para mim, essa era a alquimia da vida...
    E que era isso que Jesus veio ensinar, que somos a imagem e semelhança do Pai e que temos o potencial divino, que estamos aqui no mundo material para combater o ego e voltarmos a condição de inteireza do próprio Pai e que quando todos nós, seres humanos, conseguirmos essa condição nos uniremos a Ele novamente pq somos partes Dele.
    Beijos.

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  3. o amor e unificador.. então o odio é separador?
    dai já não estamos dividindo dinovo.... não sei se minha pergunta ficou clara... mas é muito dificil entender esse posicionamento...

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  4. É dificil de entender sim, no nível dual de consciência em que vivemos.
    Digamos que o ódio é o amor adoecido, que tal?
    Estamos vivenciando muito mais a separação do que a unificação.
    Mas a sua pergunta realmente não ficou clara. Se quiser pode reformulá-la para que eu possa entender e tentar esclarecer, ok? Obrigada.

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